segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ismália

É meu preferido. Alguns questionam-me por que cargas d'água tenho por preferido um texto tão melancólico - talvez até macabro. "Ismália" é tão belo quanto tenso. O vídeo abaixo traz uma versão musical  que traz um ar meio dançante à atmosfera do poema:


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar

domingo, 2 de outubro de 2011

tipo 3


Vaidade.

Tudo seu é bom
Tudo seu é certo
és belo, és forte,
impávido colosso

vai e fala
pega e faz
sem rodeios nem devaneios:

Os fins justificam os meios!
Se os ventos mudaram, ajuste as velas!

melhor fugir que aguentar
lá eu serei reconhecido
serei mais eu.

eu
eu
eu
eu
eu

És pau ou és pedra?
Ora és um
ora outro
do jeito que te apraz.

Pense!
tem mais gente pra viver
tem gente querendo viver com você
Veja!
Dedica-te mais pra outro
e verás a beleza
e a paz
de ser um todo
mais um no todo.

Vaidade, não.
Vai dar-te.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

The kid typing the history is a digital native.

Mesmo não morrendo de amores pelo hardcore, gostei da banda e da música. E essa, em especial, fala de um dos mais graves problemas da era digital: o fim das relações verdadeiramente humanas.



Get out of here,
there is a border to believe,
out of my land,
You're not my virtual friend,
there's no Belief,
plain fake connection you and me,
simulated reality on-line insanity.

Just go away,
Broadcasting feelings everyday,
No real life.
This is the future I don't mind,
Psycho disease,
Don't know the world outside the screen,
Simulated reality on-line insanity.

Bored generation in a fancy cave wi-fi,
The world outside the window is just a file in archive,
Selfish revolution on the land of touch-screen,
The kid typing the history is a digital native
  
   

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ai que saudade d'ocê


Tava com uma saudade imensa de escrever aqui. Quase me senti envergonhado ao ver que minha última postagem é de quase dois meses atrás. Como participante de três blogs agora, tenho que me desdobrar um pouco para escrever em todos. O primeiro é o Cosmovisão Calvinista, blog do grupo de estudos desse tema do qual faço parte. O objetivo é promover a mudança social e cultural pela transformação da cosmovisão. O segundo é o Ao pesto, blog que criei recentemente para satisfazer meus devaneios culinários. E como ainda não pensei no que postar aqui, deixo-os com a esperança de que nos veremos em breve.

Se um dia ocê se lembrar,
escreva uma carta pra mim.
Bote logo no correio
com frases dizendo assim:
Faz tempo que eu não te vejo...
       

terça-feira, 19 de julho de 2011

Filosofia da indireta, a espada do covarde.



Alusão ou observação disfarçada, não explícita
Confessemos que ocasionalmente todos fazem uso desse ardil tão aprazível ao ego. É tão rápido e extremamente funcional! O mensageiro transmite como uma catapulta, como uma metralhadora que atira ao vento. Faz de seu posto ou púlpito uma fortaleza para esconderijo de covardes. O receptor percebe desconfiado, espera apreensivo cada palavra. E mesmo quando tem a certeza de que é o alvo, muitas vezes – quase sempre – nem se importa. 
Podemos verificar duas curiosas situações: na primeira, a mensagem é de tal complexidade que o mensageiro, infeliz em sua indireta, não provoca nenhum estímulo sequer em seu destinatário. Na segunda, para a felicidade do mensageiro, a mensagem – abstrusa ou não – é cuidadosamente entregue ao destinatário devido às incontáveis caracterizações, descrições e quase personificações. 
No entanto, acontece o que mensageiro não esperava: muitas vezes - quase sempre - o alvo não se importa. Essa desconsideração pode ter duas causas: na primeira, a mensagem é absurdamente equivocada. Uma falácia das piores, ou até outra bem sofisticada. Mas falácia. Na segunda, a mensagem é tão absurdamente correta que a circunstância da indireta é que se torna mais absurda. É tão verdade que deveria ser dita diretamente.
Vemos então a fragilidade dessa estratégia.
Também concluo que as palavras de Abraham Lincoln,
É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida
são válidas para pouquíssimas ocasiões. 
Como proceder então, vista a fragilidade da indireta e a pouca funcionalidade da omissão? Obviamente é a mensagem clara e direta. Sem rodeios ou devaneios. Simples, direta, clara, objetiva. Certamente é melhor parecer um idiota do que ser um covarde.

A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer custo. 
LUTERO

quinta-feira, 30 de junho de 2011

#música: CHEIRO DE RELVA - Dino Franco e José Fortuna


Já ouvi essa música na voz de Paula Fernandes, Chitãozinho e Xororó e Daniel, porém a versão certamente mais expressiva e encantadora é cantada pelas Irmãs Galvão. Traz do campo a brisa mansa.




Como é bonito estender-se no verão

as cortinas do sertão
na varanda das manhãs

Deixar entrar pedaços de madrugada
e sobre a colcha azulada
dorme calma a lua irmã

Cheiro de relva trás do campo a brisa mansa
Que nos faz sentir criança
a embalar milhões de ninhos
A relva esconde flores lindas e orvalhadas
Quase sempre abandonadas nas encostas dos caminhos
A juriti madrugadeira da floresta
com seu canto abre a festa
revoando toda selva
O rio manso caudoloso se agita
parecendo achar bonita
A terra cheia de relva

O sol vermelho se esquenta e aparece
O vergel todo agradece
Pelos ninhos que abrigou
Botões de ouro se desprendem dos seus galhos
são as gotas de orvalho
de uma noite que passou
    

terça-feira, 28 de junho de 2011

Homossexualismo, cristianismo e laicidade

Em tempo de calorosas discussões sobre a homofobia - termo que já cansa meus ouvidos pelo uso desenfreado - destaco com louvor o texto do meu amigo André Storck sobre o tema referido. Ótima reflexão!

Já há algum tempo a causa GLBT tem ocupado especial espaço nas discussões da mídia, na política e no meio acadêmico. Na sexta-feira, 17 de junho, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou, após intenso debate e com votação apertada (23 votos a favor, 19 contra e 3 abstenções), uma resolução destinada a promover a igualdade dos indivíduos independentemente da orientação sexual. No Brasil, os grupos de defesa dos direitos dos homossexuais têm lutado em todas as instâncias pela efetivação dos direitos que a Constituição garante a todos os cidadãos. Esta empreitada tem sensibilizado grande parte da sociedade civil. A violência contra os membros da comunidade GLBT ganha destaque estratosférico nos meios de comunicação, basta observar, por exemplo, que - embora estatísticas recentes apontem a ocorrência de cerca de 137 homicídios e 41 estupros por dia no Brasil[1] - a atenção da mídia costuma se voltar durante semanas para um único caso de lesão corporal contra um homossexual. A causa homossexual nunca comoveu tanto quanto agora.
No entanto, nessa legítima batalha pelo reconhecimento de seus direitos, os movimentos homossexuais incomodam grupos religiosos e conservadores que, por força de dogmas históricos, se opõem com veemência às reivindicações da chamada “agenda gay”. No dia 1º de junho, uma manifestação contra o PL 122 (projeto de lei que visa criminalizar qualquer tipo de discriminação contra homossexuais) e contra a decisão do STF (que um mês antes reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo) reuniu cerca 25 mil evangélicos e católicos em frente ao Congresso Nacional. Os manifestantes entregaram para o presidente do Senado um abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas contra a aprovação do citado projeto de lei. A Marcha para Jesus em São Paulo reuniu outros 5 milhões que se manifestaram no mesmo sentido. No dia 22 de junho, a PEC 23/2007 que visava acrescentar ‘orientação sexual’ no rol das vedações a discriminação da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, foi rejeitada pela Assembléia Legislativa do Estado após intensa campanha contrária por parte dos eleitores religiosos.
A acentuada interferência cristã em temas pontuais da política e da atividade legiferante nacional tem levado alguns ateus, agnósticos e materialistas seculares a evocarem a proteção do princípio da laicidade contra a maioria religiosa da população. Existe, entretanto, um grande desconhecimento acerca do conteúdo jurídico desse princípio. A literatura jurídica nacional sobre o tema da laicidade é escassa e as definições populares dadas ao Estado laico tendem a se confundir com o Estado ateu.
A laicidade prevista no art. 19 da CF/88 diz respeito tão somente à separação legal entre igrejas e Estado, este não possui religião oficial e garante a igualdade dos cidadãos de todos os credos perante a lei. A interpretação equivocada da abrangência da laicidade pode levar-nos a repetir erros históricos ao confinar a religião somente dentro dos templos ou exaltá-la à arrogante função de legitimadora do Estado.
Nenhuma pessoa séria e em sã consciência nega o direito dos homossexuais de serem tratados com base na dignidade humana, igualdade e respeito como qualquer outro cidadão hetero. Por outro lado, nenhum homossexual honesto, com pleno domínio das faculdades mentais, nega o direito das pessoas de professarem sua fé e participarem das liturgias de sua crença. Então, qual o motivo de tantas controvérsias e desavenças? De onde vem tanto desentendimento e discórdia?
A problemática que envolve o tema reside na falta de um verdadeiro diálogo entre as partes. A causa da ausência de uma comunicação saudável entre os envolvidos é a adoção de pressupostos absolutizados por ambos os lados. Ao perfilhar preconceitos, tanto os grupos homossexuais quanto os religiosos impedem o que o debate seja arejado e afastam a possibilidade de consenso.
Para melhor elucidação, há exemplos de ambos os lados: primeiro a postura preconceituosa de muitos cristãos que consideram todos os homossexuais pecadores pervertidos que precisam de “umas boas palmadas” – como defende certo deputado federal. Por sua vez, muitos homossexuais (e até mesmo heteros simpatizantes da causa gay) adotam postura igualmente intolerante ao classificarem toda pessoa que emita opinião contrária aos interesses GLBT de homofóbica. Aliás, o termo “homofobia” tornou-se o grande mantra repetido maliciosamente para tentar impor silêncio ao saudável e natural debate que deveria ocorrer em uma democracia.
Além de impedir o diálogo, as posturas intransigentes acirram os ânimos impedindo, assim, a exposição racional das opiniões. Quando um pastor grita aos membros de sua igreja que os homossexuais são inimigos do cristianismo e filhos do demônio, ele induz os fiéis a um comportamento sectário, preconceituoso e homofóbico. Os pseudo-cristãos que agem dessa forma olvidam-se de um dos principais mandamentos do Cristianismo: Amai ao próximo como a si mesmo². Deste modo, conseguem a proeza de construir uma doutrina que é, ao mesmo tempo, herética para o cristianismo e criminosa para o Direito.
É em razão desse tipo de comportamento que muitas pessoas trocam as bolas e também se tornam intolerantes e anticristãos, chegando ao cúmulo de culpar o monoteísmo pela ausência de fraternidade entre os homens. Outros - com parco conhecimento das doutrinas cristãs Romanista e Reformada - utilizam-se de textos do cânon veterotestamentário bíblico (que estabelecem pena de morte para pessoas que pratiquem atos homossexuais) com fito de condenar o cristianismo. Tais textos, dizem respeito às leis da nação de Israel milênios atrás e são de cunho meramente histórico, não normativo. A Bíblia não deixa dúvidas de que os cristãos devem portar-se segundo a retrocitada Lei de Cristo, diversas vezes repetida nas Escrituras³.
A tendência de parte do movimento gay em classificar as pessoas nos estereótipos pré-determinados de “homofóbicos” ou “anti-homofóbicos” é outro complicador, pois obriga todos a chamar de homofobia fatos que não o são. Por exemplo, a repulsa espontânea e natural que muitos heteros sentem ao imaginar a relação de duas pessoas do mesmo gênero, não implica necessariamente nenhuma postura hostil contra os homossexuais enquanto pessoas. Aliás, trata-se de um sentimento que muitos homossexuais também têm pelo intercurso hetero, sem que ninguém os taxe de “heterofóbicos”4
O cristianismo bíblico ensina que a prática de ato homossexual não é agradável perante Deus5 e ressalta o fato de que é anatomicamente não natural, mas preceitua ao mesmo tempo que os homossexuais devem ser amados e acolhidos. Não é possível criminalizar este pensamento, sob pena de violarmos o princípio constitucional pétreo garantidor da liberdade de consciência e crença. Todavia, é também insustentável para um Estado Democrático de Direito que os homossexuais sejam tratados como cidadãos de segunda classe, sem acesso a direitos básicos e essenciais. Não titubeamos em afirmar que a dignidade da pessoa humana deve balizar o exercício do direito à liberdade de expressão.
   É preciso atentar para as pressuposições impeditivas do salutar debate democrático, a fim de possibilitar a construção de um acordo que resguarde tanto o direito de crença e religião quanto a efetivação dos direitos fundamentais para os homossexuais. Ou fazemos dessa forma, ou a questão será resolvida pela lei do mais forte, que instituirá algo parecido com uma cristocracia - para “curar” e catequizar homossexuais; ou com uma homocracia – para salvar os religiosos de si mesmos e corrigir seus supostos “atrasos” ideológicos.



1.         Dados retirados do site do Ministério da Justiça. Mapa da violência no Brasil 2011: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJEBAC1DBEITEMIDDD6FC83AAA9443839282FD58A5474435PTBRNN.htm
2.         Evangelho segundo Mateus, capítulo 22, versículo 39.
3.         Carta de Paulo aos Romanos 10:4. Carta de Paulo aos Gálatas 3:23-25 e 6:2. Carta de Paulo aos Efésios 2:15. Evangelho segundo Mateus 22:37-40 entre outros.
4.         Idéia cunhada por Carvalho O. -  http://www.olavodecarvalho.org/semana/070329jb.html
5.         Nesse sentido: Carta de Paulo aos Romanos 1:18-32. Primeira Carta de Paulo ao Coríntios 6:9-10. E o princípio que se extrai de Levíticos 18:22 e 20:13, que deve ser interpretado segundo a Lei de Cristo, condenando-se o ato em si, mas amando as pessoas.

FUI,


Fiquei lá um tempo,
mas já voltei!
     

terça-feira, 10 de maio de 2011

Existencialismo de Sartre: a antesala do inferno




“Se um certo Jean-Paul Sartre for lembrado, eu gostaria que as pessoas recordassem o meio e a situação histórica em que vivi, todas as aspirações que eu tentei atingir. É dessa maneira que eu gostaria de ser lembrado.”


Este foi o apelo que o grande existencialista ateu fez cerca de cinco anos antes de sua morte. O pensamento de qualquer pensador está profundamente arraigado na sua própria experiência de vida. As influências sofridas por cada um determinam em muito o seu modo de pensar. É impossível desvencilhar-se da própria bagagem que a vida nos impôs. Daí se dizer que cada homem é produto do seu tempo.


Com a maior parte de sua obra escrita durante a segunda grande guerra, Sartre teve material farto para compor sua ode à desesperança. O seu tempo foi marcado por grandes e dramáticos eventos. Suas idéias chegam a nós como um protesto de revolta diante das catástrofes absurdas a que foi submetida sua geração. Talvez seu conceito sobre Deus possa ser resumido pelo silogismo que segue:


“Se Deus fosse bom, ele desejaria tornar suas criaturas perfeitamente felizes...”


“E se fosse todo-poderoso, ele seria capaz de fazer o que quisesse...”


“Mas as criaturas não são felizes.”


“Portanto, a Deus falta a bondade ou o poder – ou ambas as coisas.”


É mais ou menos assim que se apresentam alguns dos argumentos que refutam a existência de um Deus bondoso. A presença indesejável do mal no mundo sempre foi um problema de difícil compreensão. Segundo o argumento acima exposto, não pode haver nem um deus bondoso nem um diabo perverso, pois a presença do primeiro teria que necessariamente aniquilar a ação do segundo, o que, aparentemente, não acontece.


Vivi em Israel por cerca de um ano e meio e lá encontrei alguns sobreviventes da longa noite de horror que a Alemanha nazista impôs ao mundo de maneira geral, e sobre os judeus de forma perversamente específica; Ainda que o nazismo tenha perseguido e martirizado poloneses, ciganos, homossexuais e prostitutas de modo igualmente odiável, a história publica com mais ênfase a tragédia judaica. Depois do inominável genocídio a que foram submetidos, muitos judeus tiveram uma dificuldade imensa de continuar crendo na existência de uma divindade bondosa a governar o mundo.


O antiqüíssimo problema do mal emergiu como um monstro hediondo das águas escuras dos séculos e desferiu um golpe demolidor sobre a geração de Sartre. Assimilar o conceito de um deus todo-poderoso a governar o destino dos povos tornou-se um desafio insuperável para muitos daqueles que presenciaram as atrocidades de uma era como aquela. Diante de certas vicissitudes alguns perdem a fé; apaga-se o lume da esperança, esmagada pelo evento trágico e sem explicação. Resta nestes casos a perplexidade, a expressão de pasmo perante o que só poderia ser classificado como absurdo!


A geração de Sartre passou por duas catástrofes causadas, na leitura do existencialismo, pela loucura da livre escolha dos homens. Nem deuses nem demônios tomaram parte na empreitada sinistra. Em verdade, concluíram, não há deuses ou demônios. O homem é livre e sua vontade é a responsável por moldar o mundo e ditar o ritmo e o rumo de indivíduos e nações em sua marcha pela história.


Observando os extremos a que pode chegar o homem, as ações absurdas que pode levar a cabo, o flagrante desequilíbrio na balança da equidade, Sartre conclui que o problema do mal não é de ordem metafísica; não é produto da emulação de seres fantásticos de outras dimensões. Sua filosofia dispensa qualquer noção de deuses ou demônios e desemboca num humanismo radical, onde o homem, e somente o homem se torna o protagonista do seu pequeno drama.


Deixado sozinho, a mercê da própria sorte, o homem terá que fazer-se. Torna-se responsável por aquilo que é e não deverá atribuir a nada nem a ninguém seus infortúnios. Se alcançar sucesso, o fará graças tão somente aos seus próprios méritos, se porventura naufragar nas ondas do fracasso não terá o direito de lamentar-se, projetando sobre outrem a responsabilidade dos seus desacertos. Terá que fazer suas escolhas, posicionar-se e arcar com os custos, sejam quais forem suas conseqüências.


Descartada a possibilidade da eternidade e de acertos de contas morais na pós-história, como ensina o cristianismo, o existencialismo procura aliviar o dilema humano, selando hermeticamente toda e qualquer fresta por onde possa se intrometer a espiritualidade com sugestões de juízos ou benesses vindouras. Em outras palavras, não há tal coisa como uma continuidade entre tempo e eternidade. Há que aferrar-se ao tempo e fazer-se como bem se entende.


O existencialismo ateu de Sartre faz do mundo uma absurda ante-sala do inferno! No fim acabam tendo mesmo razão: É uma questão de escolha.


domingo, 1 de maio de 2011

Ciranda



não parece que nunca foi
em mim,
sempre houve amor.


ah, bom Deus,
por que fiz do sujo uma paisagem?
O que nem era,
pra mim foi.

♪ Era vidro e se quebrou 
o amor que tu me tinhas…
   

segunda-feira, 18 de abril de 2011

#música: SAPATO VELHO - Roupa Nova



Você lembra, lembra?

daquele tempo
eu tinha estrelas nos olhos
um jeito de herói
Era mais forte e veloz
que qualquer mocinho de cowboy...

Você lembra, lembra?

eu costumava andar
bem mais de mil léguas
pra poder buscar
Flores-de-maio azuis
E os seus cabelos enfeitar...

Água da fonte

cansei de beber
prá não envelhecer
Como quisesse
roubar da manhã
um lindo pôr-de-sol

hoje não colho mais
as flores-de-maio
nem sou mais veloz
como os heróis...

É! Talvez eu seja

simplesmente
como um sapato velho
mas ainda sirvo
se você quiser
Basta você me calçar
que eu aqueço o frio dos seus pés...

domingo, 10 de abril de 2011

#música: I STILL HAVEN'T FOUND WHAT I'M LOOKING FOR - U2

Hoje é

Sabe aqueles dias
em que você já acorda cansado?
a aflição desperta antes do corpo
a paz, singela paz, demora vir.

Hoje é.

Sabe aqueles dias 
quando somos poucos os certos
e a massa irracionalmente trilha
os caminhos traçados pela ignorância?
Sabe quando se é desprezado 
tentando melhorar, reformar, explicar?

Hoje é.

Sabe aqueles dias 
quando quem você ama demais
faz você sentir-se um lixo
total e repugnante?
quando as suas conversas parecem teatro
e você precisa adivinhar pensamentos

Hoje é.

Sabe o dia em que você se pergunta o seu lugar
pensando em ceder
ou pensando em lutar

Hoje é!

  

quinta-feira, 7 de abril de 2011

#música: REALEJO - O Teatro Mágico




Será que a sorte virá num realejo?
trazendo o pão da manhã
a faca e o queijo
ou talvez, um beijo seu.
que me empreste alegria
que me faça juntar
todo resto do dia
meu café, meu jantar, meu mundo inteiro.
Meu mundo inteiro
que é tão fácil de enxergar... e chegar
nenhum medo que possa enfrentar
nem segredo que possa contar
enquanto é tão cedo
Tão cedo!

Enquanto for... um berço meu
Serás vida... bem vinda
Em mim.
Será que a noite virá num realejo?
vejo a ponte que levará o que desejo
admiro o que há de lindo e o que há de ser... você
Enquanto for... um berço meu
Serás vida... bem vinda
Em mim.

"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem."

terça-feira, 5 de abril de 2011

Favela, pintada com o pé.


Dia desses encontrei um calendário em casa, desses que compramos de entidades filantrópicas ou afins. Cada mês, uma obra de arte. Interessante. Folheei-o e me apaixonei a primeira vista por essa pintura. Quanta simplicidade, sutileza. Arte. 
Mas quando descobri que o quadro acima foi pintado com o pé, foi impactante. É até complicado imaginar como se deu esse processo de pintura, ainda mais eu que desconheço o assunto. Aí está a fonte de todo meu encantamento.
Esse e outros quadros são fruto do trabalho de vários artistas impossibilitados de usar as mãos, porém com impressionante criatividade e superação, que participam da Associação de Pintores com a Boca e com os Pés.
Sorrio então ao concluir que nem toda arte é somente para o lucro, ainda há a arte por simplesmente arte.
  
    

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Inspirar

Durante um tempo, não consegui escrever. Nenhuma ideia sequer. E nessa batalha entre eu e eu mesmo, estive à beira do precipício: quase excluí o blog. Mas fiquei realmente espantado pelo fato de que nunca tive dificuldade em me expressar. 
Destaco duas das finalidades de um blog: informação e exposição. Certamente, este blog é um exemplo de exposição. Ideias, fatos, sentimentos, histórias, uma infinidade de possibilidades para exposição. Se esse estoque é infinito, qual o porquê da falta de inspiração? Por que cargas d'água não consegui escrever?
Foi assim então que resolvi o dilema de deletar o blog ou não:

__ Jane, não consigo escrever nadinha. Preciso de ajuda. Sobre o que escrevo?
__ Escreva sobre isso, sobre estar sem inspiração.

Escrever sobre a dificuldade de escrever. Tão difícil é entender essa premissa que nem sei dizer. A desistência fácil numa situação difícil pode ser o caminho mais idiota possível. Cara, que ideia foi essa de excluir o blog? Posso esperar. Essa inspiração parece semelhante ao que acontece ao nosso querido ar, num processo também chamado de inspiração. Ele vem, mas vai. E vem de volta...

Books are good for us.




Aprendi a ler já bem velho. Não que fosse analfabeto, tampouco que eu seja velho. 
Afirmo meu atraso em termos de leitura porque reconheci muito tarde quão maravilhoso é a experiência literária.
Fiquei impactado ao ver essa imagem. Bem simples e direta, livros são bons pra mim.
Então resolvi listar os livros que for lendo, num rol de títulos de ficção, filosofia, religião, arte, etc. 
E a cada nova leitura, vou postar minha humilde e maltrapilha opinião.
  
   

quarta-feira, 23 de março de 2011

Café.



coffee
coffe
kaffee
é um cheiro
uma sensação
tal qual perfume de donzela
que vem
e causa.
queima o lábio
a língua sente 
queima mais a alma que o corpo
faz-se o riso
prazer tão belo
as gustativas cantam em harmonia

não preciso de kopi luwak.

alguns corações
e um pilão...
já fazem valer a emoção.


sexta-feira, 18 de março de 2011

#música: SAL DA TERRA - Beto Guedes

                 


Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Bem que tá na hora de arrumar...
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Não contavam com minha astúcia!


É ao mesmo tempo surpreendente e incontrolável a influência cultural americana em tudo o que temos. Programas de TV, roupas, acessórios, carros, casas, cortes de cabelo, ritmos musicais, danças, gírias. O american way of life acabou por se tornar universal way of life.  
Vi, por intermédio de um amigo, um trecho de um episódio do Chapolin Colorado no qual a crítica é exatamente sobre esse assunto. O Super Sam, com seu saco recheado de dólares, eterniza o momento com a frase: Time is money!
Mesmo que a ênfase da crítica seja uma influência político-econômica dos Estados Unidos sobre o México, ainda é válida para todo o tipo de americanização que sofremos. Oh, yeah!



sábado, 12 de março de 2011

Cosmovisão cristã. Em uma frase.



"Eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor." C.S. Lewis


   

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Na mão de Deus


Na mão de Deus, na sua mão direita,

Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita

A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,

Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental      

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Amar é ser vulnerável



"Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa ou pessoa, e o seu coração provavelmente será partido. Se você deseja mantê-lo intacto, não dê seu coração a ninguém. 
Evite qualquer envolvimento, mantenha-o trancado com segurança no caixão do seu egoísmo. Nesse esquife seguro, escuro, imóvel, e sem ar, ele passará a ser inquebrável, impenetrável, irrecuperável... 
O único lugar onde você pode estar perfeitamente seguro dos perigos do amor é no inferno."
  
            C.S. Lewis

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vampiros: arte e lucro



Temidos, condenados e até adorados, os velhos chupadores de sangue estão ficando domesticados. Onde estão Vlad e Dr. Van Helsing, do clássico Drácula de Bram Stoker?  Ninguém sabe. Blade, do filme homônimo e Selene, de Anjos da Noite dão lugar a seres como os irmãos Salvatore, da série Vampire Diaries ou piores ainda, tal como Edward Cullen da saga Crepúsculo.
Perdoem-me os fãs, mas o que vem acontecendo com a literatura vampiresca é lamentável. É visível que os novos filme e séries ignoram a essência do "ser vampiro" para agradar uma maioria adolescente. 
É de se saber também que as influências do regime capitalista converteram música, literatutra e dramaturgia, de arte para business.
O potencial artístico sendo cada vez mais reprimido pela busca de capital, faz com que muitos artistas modernos acabem por se entregar a esse novo tipo de negócio. Não é um discurso socialista, longe disso. Apenas chamo atenção para o que vem acontecendo com nossa literatura, nossa dramaturgia.
Vampiros como víamos em filmes, livros e jogos como Castlevania desaparecem como fumaça, deixando espaço para outros, com caninos tão artificiais quanto os da figura acima.

sábado, 22 de janeiro de 2011

#música: TRISTEZA DO JECA - Paula Fernandes, Sérgio Reis e Renato Teixeira



Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Sou igual a um sabiá
Que quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está

Nesta viola canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buracos
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia um barulhão

Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Lá no mato tudo é triste
Desde o jeito de falar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai-se sumindo
Como as águas vão pro mar...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Uma nova esperança


O rosto cansado e apreensivo da senhora acima remontam suas lágrimas já secas. A dona de casa Ilair Pereira de Souza, 53 anos, foi salva na enchente do Rio Preto, região serrana do Rio, por uma corda arremessada de cima de um prédio para o local de onde ela clamava por socorro. 

A imagem do salvamento é impressionante, desafiando os crentes no destino. Vejo uma clara ação sobre-humana em cada detalhe: na corda com mais de dez metros, no nó perfeitamente apertado, na atitude dos salvadores, etc.

Casas destruídas, cidades devastadas, quase 700 mortos - até agora - além de famílias esfaceladas pela perdas.

Qualquer um com sangue nas veias sensibilizou-se com tão catastrófico evento. Poxa, confesso que não aguentei sem chorar. Corpos dentro de caminhões frigoríficos, abrigos superlotados, mortos sendo velados em mesas de sinuca. Enquanto nós, abrigados e aquecidos, murmuramos pela comida requentada, milhares de pessoas comem pão mofado e bebem água de enxurrada.

Mas uma nova esperança arde em mim ao ver cenas como as de dona Ilair e da foto abaixo:


O bebê Nicolas, salvo depois de 15 horas nos escombros, retoma a atenção para as vidas que ainda precisam de ajuda. Pessoas ainda podem estar vivas debaixo de destroços. Pessoas que serão e escreverão o futuro, que se lembrarão com pesar e tristeza dos acontecimentos de janeiro de 2011.


É sofrível tudo o que aconteceu, com certeza, porém devemos lembrar que nem tudo está perdido. Ainda há esperança, e por ela foram salvos dona Ilair, o bebê Nicolas e vários outros que ficarão no anonimato, mas preservarão consigo sua nova chance de viver.