Sentado sobre as rachaduras da calçada imagino que tu vens ao meu encontro.
Engolindo o orgulho tu caminhas contra ti mesma e contra o gelado vento outonal.
Na escura noite, só as estrelas brilham mais que o desejo dos teus olhos de nos ver novamente juntos.
Os teus passos alargam-se rápido com as batidas do teu ansioso peito de tambores.
O perfume da dama-da-noite passa direto pelos teus pulmões cansados.
Tu te aproximas, então, em reduzida marcha até onde estou.
E tendo as nossas frontes tão aproximadas, tu chegas ao meu ouvido e dizes doçuras.
Abraço-te com amor e desejo que Deus permita-nos a cada minuto mais um minuto assim como estamos.
Desperto do meu devaneio ainda sobre as rachaduras da calçada.
Um cão pulguento arrasta alguns restos e o gélido vento continua sobre minha cabeça.
A imagem que tu vinhas fora a sombra de uma estranha presença, que logo tomou seu rumo com silêncio sepulcral.
E sob as estrelas que cintilavam, assim como os teus em meu sonho,
Brilhavam meus olhos de lágrimas poucas e miúdas que cismavam descer.
Peço ao mesmo Deus de antes, o único,
Que conforte estes meus olhos tristes
E repouse paz em mim e nessa amiga calçada.
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