sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Da (in)decisão
Eram duas dúvidas ambulantes.
Dois nós na garganta e escolhas a fazer.
A largos passos, talvez vacilantes
Na ânsia do que vinha acontecer.
Ora enfado e fadiga
Outrora riso e cantiga
Admirando o que há de lindo e o que há de ser.
E não é que indubitavelmente se encontraram,
Cada dúvida e sua carga peculiar.
E duvidando de si mesmos esmiuçaram
As dúvidas que tinham de carregar.
E eles que, por suas dúvidas,
Não sabiam escolher
Acabaram por definir assim:
_Somando as duas indecisões,
Resolvemos decidir que sim.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Sente-se, incapaz.
O homem se sente um incapaz. Na largada da vida, os outros já correm a galope sob éguas puro sangue. Agora não há sequer uma mula à sua espera. Não resta-lhe escolha senão marchar duramente. A pé.
Na imperceptibilidade de sua existência, vagueia entre os sons e sombras da cidade. Os sinos são seu martírio: cada badalada trespassa seu peito e volta lhe serrilhando as entranhas. Lembranças de um tempo que foi seu.
Quem dera Deus lhe concedesse o silêncio. De nada o adiantaria, é no silêncio que se pronunciam Sílvia e seu canto de sereia. E como o canto ainda era audível! Ela era tão perto... Tão sua!
O infeliz clamava por ceguidão. Algum consolo para a dissabor da situação que pertubava-o pelas manhãs de domingo. Nada mudara nela. Cumprimentava-o com um beijo na bochecha magra, ele retribuíra com um amarelo sorriso de meia-boca. Pobre e incapaz! Ele era uma mão magra de ancião tentando agarrar uma ventania de outono. E ela continuava a usar os vestidos de estampa colorida. Caracois castanhos, olhos de fogo. Nada mudara nela.
Novamente ressoaram os sinos, oração aos céus pedindo por chuva. Prontamente atendida. Deus ainda era bom: água caía leve e quente sobre o rosto do infeliz.
Pensou novamente em Sílvia e na canção que cantaria apreciando tão formoso arco-íris sobre as tendas de feira. Cantava por tudo! E como se aquele homem precisasse ser mais castigado, cessou-se a sua chuva. E o sol brilhou feio.
O homem desatou a chorar. Não havia éguas, nem mulas, nem Sílvias, nem silvos, nem chuva. Refugiou-se num banco de praça. Aquietar a alma era o remédio que precisava. A voz de sereia o mandava sentar-se. Sentou-se, então, fechou os olhos e acordou para a vida.
Na imperceptibilidade de sua existência, vagueia entre os sons e sombras da cidade. Os sinos são seu martírio: cada badalada trespassa seu peito e volta lhe serrilhando as entranhas. Lembranças de um tempo que foi seu.
Quem dera Deus lhe concedesse o silêncio. De nada o adiantaria, é no silêncio que se pronunciam Sílvia e seu canto de sereia. E como o canto ainda era audível! Ela era tão perto... Tão sua!
O infeliz clamava por ceguidão. Algum consolo para a dissabor da situação que pertubava-o pelas manhãs de domingo. Nada mudara nela. Cumprimentava-o com um beijo na bochecha magra, ele retribuíra com um amarelo sorriso de meia-boca. Pobre e incapaz! Ele era uma mão magra de ancião tentando agarrar uma ventania de outono. E ela continuava a usar os vestidos de estampa colorida. Caracois castanhos, olhos de fogo. Nada mudara nela.
Novamente ressoaram os sinos, oração aos céus pedindo por chuva. Prontamente atendida. Deus ainda era bom: água caía leve e quente sobre o rosto do infeliz.
Pensou novamente em Sílvia e na canção que cantaria apreciando tão formoso arco-íris sobre as tendas de feira. Cantava por tudo! E como se aquele homem precisasse ser mais castigado, cessou-se a sua chuva. E o sol brilhou feio.
O homem desatou a chorar. Não havia éguas, nem mulas, nem Sílvias, nem silvos, nem chuva. Refugiou-se num banco de praça. Aquietar a alma era o remédio que precisava. A voz de sereia o mandava sentar-se. Sentou-se, então, fechou os olhos e acordou para a vida.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Lembranças e incertezas
debruçado sob a grade da janela
que me recordo das grandes venezianas de cerejeira.
ouvir as lenhas crepitando na lareira
o chiado avisante da chaleira
ruivas crianças começando a gritadela.
Quem dera Deus me concedesse voltar no tempo
e dançar mais uma vez na neve
e correr mais uma vez na catedral de Saint David
e o pôr-do-sol mais uma vez no rio Wey
e me fartar de feijões doces.
Enquanto isso engano a mim.
Fico a esperar que os ventos me levem
enquanto os ventos esperam que eu me leve
Vinícius me diria então:
Quanta tristeza há nesta vida!
Só incerteza, só despedida.
Ah, Vinícius!
há tantos "olás" quanto "adeus"
há tantas chegadas quanto partidas
Sim!
a flecha lançada jamais retorna.
a palavra pronunciada jamais se repete.
mas haverão mais flechas
e muito mais palavras....
por isso não me turbo o coração
a flecha atingirá o marco
e a palavra atingirá o ouvido
e eu, agora no crepúsculo do dia
debruçado sobre a janela, contemplarei
as flores roxas, a neve fina, o amor no sorriso.
há tantos "olás" quanto "adeus"
há tantas chegadas quanto partidas
Sim!
a flecha lançada jamais retorna.
a palavra pronunciada jamais se repete.
mas haverão mais flechas
e muito mais palavras....
por isso não me turbo o coração
a flecha atingirá o marco
e a palavra atingirá o ouvido
e eu, agora no crepúsculo do dia
debruçado sobre a janela, contemplarei
as flores roxas, a neve fina, o amor no sorriso.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Oásis de toda vida
Família:
o pai grita truco,
o tio é seis,
o pai é nove,
o tio é queda.
a vó gargalha sem dente
a menina derruba a farofa no chão
a madrinha ri alto, feliz pelo vinho.
O tio cochilando na oração...
a vó começa a canção,
a tia embala em seguida
os meninos e o violão
e o batuque de mãos e mesas
dão o tom da festa:
desafinado coro dos contentes.
se abraçam e choram
vendo as lembranças de quem já foi
mas confortados, logo riem
por aqueles que aqui estão
e aqueles que estão por vir...
família,
oásis de toda vida.
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