sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Memorial de Leitura: Segunda Parte


PARTE 2

      Tive fascinantes experiências de leitura no primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Maurício Murgel. As aulas de língua portuguesa lecionadas pela Profª Cristina foram maravilhosas, e assim o eram exatamente pela extrema importância que ela atribuía à leitura – mesmo que obrigatória. A cada bimestre um livro deveria ser lido e um trabalho apresentado para a turma (além do trabalho escrito). Começamos o ano lendo Memórias de um sargento de milícias e Inocência, de Visconde de Taunay. Livros profundamente belos. Li também O Guarani, de José de Alencar – leitura última que fiz em apenas um dia, apenas para redigir e apresentar o trabalho. Em três bimestres li obrigatoriamente três livros, porém sem nenhum prazer.
      No último bimestre foi anunciado o último livro a ser lido: Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo. Julguei inicialmente ser este um livro chato, e aguardava assim mais uma penosa leitura literária. Quão falho foi este primeiro julgamento! Com Olhai os lírios do campo percebi o quão maravilhosa pode ser uma leitura obrigatória de escola. Eugênio e Olívia, principais personagens do enredo, muitas vezes se entrelaçavam com minhas experiências de descrença e fé. Apresentei exultante meu trabalho e conquistei a inédita nota 10 da professora Cristina que, até então e por testemunho próprio, não avaliava tão bem um trabalho há vários anos. Ao término do ano recebi, além de boas notas, uma experiência de leitura que levaria para a vida toda.
      Ingressei no ano seguinte ao Colégio Técnico da UFMG e permaneci um bom leitor. Além das leituras técnicas do curso de Química, tomei gosto pelos jornais e revistas, mas continuei lendo romances e a Bíblia. Continuando no estudo bíblico, formamos - eu e quatro amigos - o Grupo de Estudos de Cosmovisão Calvinista, para estudarmos teologia (e suas implicações culturais) e filosofia. Por causa do grupo, sofremos certa represália por parte de muitos companheiros eclesiásticos. Afinal, o conhecimento assusta, e esse acesso ao conhecimento pelas nossas leituras pode ter causado algum desconforto - principalmente para aqueles que tinham algo a temer.
      Outro ingresso, agora no curso de Letras da PUC Minas, estimula ainda mais minhas práticas de leitura. Ao estudar sobre a linguagem e as relações entre leitura e leitor, percebo a riqueza que cerca os conceitos. E mais: percebo a necessidade de uma boa leitura em todas as áreas da vida e como as práticas de leitura me desenvolvem enquanto leitor - seja nos primeiros passos com o apressado caminhãozinho de Quem vai passar ou nas reflexões entre vida e fé, de Olhais os lírios do campo.

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