quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Lembranças e incertezas

É sempre no alvorecer do dia
debruçado sob a grade da janela
que me recordo das grandes venezianas de cerejeira.
ouvir as lenhas crepitando na lareira
o chiado avisante da chaleira
ruivas crianças começando a gritadela.

Quem dera Deus me concedesse voltar no tempo
e dançar mais uma vez na neve
e correr mais uma vez na catedral de Saint David
e o pôr-do-sol mais uma vez no rio Wey
e me fartar de feijões doces.

Enquanto isso engano a mim.
Fico a esperar que os ventos me levem
enquanto os ventos esperam que eu me leve
Vinícius me diria então:
Quanta tristeza há nesta vida! 
Só incerteza, só despedida.

Ah, Vinícius!
há tantos "olás" quanto "adeus"
há tantas chegadas quanto partidas
Sim!
a flecha lançada jamais retorna.
a palavra pronunciada jamais se repete.

mas haverão mais flechas
e muito mais palavras....

por isso não me turbo o coração
a flecha atingirá o marco
e a palavra atingirá o ouvido
e eu, agora no crepúsculo do dia
debruçado sobre a janela, contemplarei
as flores roxas, a neve fina, o amor no sorriso.